Faz tanto tempo que se está esperando
-o trem que não vem, o trem de Belém
_que as bagagens alheias, amontoadas
no banco, cheiram-me a poeira de séculos:
devem estar aqui, embolorando, caduceu
de Mercúrio, a cabeleira de Absalão,´
uma peça íntima de Cleópatra, um báculo
de bispo, uma tabaqueira de Luís XV, um
olho de vidro, uma fivela, uma bolsa de
água quente, um lenço com um nó,um...
Pestanejo. Sinto-me tão infeliz...
para que me fui meter nesse triste
inventario, meu Deus? E, a cada suspiro
que dou, o meu anjo da guarda, perde mais
uma peninha da asa.
Mario Quintana,
in Canções
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