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domingo, 18 de agosto de 2013

SEI QUE CHOVEU À NOITE




Sei que choveu à noite. Em cada poça há um brilho
[azul e nítido.
Sobre as telhas, os diabinhos invisíveis do vento
[escorregam num louco tobogã.
Um mesmo frêmito agita as roupas nos varais e os
[brincos nas orelhas...
Ó ânsia aventureira! Parece que surgem bandeirolas
[nos dedos mágicos dos inspetores do tráfego... Ah,
[que vontade de desobedecer os sinais!
E mesmo as escolas, onde agora está presa a
[meninada, nunca essas escolas rimaram tão bem
[com opressivas gaiolas...
Só deveria haver escolas para meninos-poetas, onde
[cada um estudasse com todo o gosto e vontade
o que traz na cabeça e não o que está escrito nos
[manuais.
E, se duvidares muito, daqui a pouco sairão voando
[todas as gravatas-borboletas, enquanto os seus
[donos atônitos aguardam o sinal verde nas esquinas.
[Decerto elas foram em busca de novos ares...
Mas sossega, coração inquieto. Não vês? Sob o azul
[cada vez mais azul, a cidade lentamente está zarpando
[para um porto fantástico do Oriente.

Mario Quintana
de Baú de Espantos

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