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terça-feira, 20 de agosto de 2013

ALMA PERDIDA




Depois que é o corpo arremessado sobre o cais do sono
Quem poderá dizer o que é feito da sua alma milenária?
Acaso
Ajunta-se às demais no primitivo abandono do mundo
Acossadas em grutas
Em profundas florestas
Onde se desenrolam imensamente as serpentes
E arde em silenciosa brasa o olhar fixo das feras?
Ou prostra-se ante os Deuses bárbaros
Com seus látegos de raios
Os seus pés de pedra imóveis e pesados como montanhas?
Ah! leva então muitos e muitos séculos até que a madrugada
Feita de cricrilar dos derradeiros grilos
Das cabeleiras úmidas e pendidas dos salsos
Até que a mão da madrugada
Afague
Suavemente as feições do adormecido à deriva...
Sim! À noite, as almas deste mundo vagam em alcateias como lobos,
O medo as traz unidas e ferozes
E só uma ou outra - a minha? - às vezes, solitária fica...
- Olha:
Aquele negro, aquele enorme cão uivando para a Lua! 


Mário Quintana
in  Antologia Poética

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