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terça-feira, 20 de agosto de 2013

CANÇÃO DO PRIMEIRO ANO



Para Lila Ripoll

Anjos varriam morcegos
Até jogá-los no mar.

Outros pintavam de azul,
De azul e de verde-mar,
Vassouras de feiticeiras,
Desbotadas tabuletas,
Velhos letreiros de bar.

Era uma carta amorosa?
Ou uma rosa que abrira?
Mas a mão correra ansiosa
- Ó sinos, mais devagar! -
A janela azul e rosa,
Abrindo-a de par em par.

Ó banho da luz, tão puro,
Na paisagem familiar:
Meu chão, meu poste, meu muro,
Meu telhado e a minha nuvem,
Tudo bem no seu lugar.

E os sinos dançam no ar.
De casa a casa, os beirais,
- Para lá e para cá-
Trocam recados de asas,
Riscando sustos no ar.

Silêncios. Sinos. Apelos. Sinos.
E sinos. Sinos. E sinos. Sinos.
Pregoeiros. Sinos. Risadas. Sinos.
E levada pelos sinos.
Toda ventando de sinos,
Dança a cidade no ar!


Mário Quintana
in Nova Antologia Poética


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