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segunda-feira, 23 de junho de 2014

NOTURNO III


Os cuidados se foram, ou tomaram
Estranhas máscaras de sonho... 

Teus cabelos de naúfrago
Estão bordados no brancor da fronha.  

E onde foste arranjar essas mãos de cera
Que parecem levemente luminosas no escuro? 

Toda casa encalhou nalgum porto noturno:
Ninguém no cais do deserto... 

Apagaram-se os grilos,
As estrelas estão imóveis e tristes como num mapa
sideral.                                                  

Nunca estiveram também tão fixos os olhos dos                        
retratos
Como se fossem apenas fotografias. 

O único rumor de vida,
Esse vem de muito, muito longe: o pobre arroio
antigo                                                    

Gota a gota a fluir no soluço da pia!


Mario Quintana
in Apontamentos de História Sobrenatural



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