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domingo, 28 de setembro de 2014

BILHETE ATIRADO NO FUNDO DO TEMPO



Meu Deus, Catarina... ou eras Conceição... ou
Marianinha...
Mas aquelas tuas tranças
que eu sou capaz de jurar que tinham vida própria...
uma vez uma delas quase se incendiou - de louca! -
na chama de um lampião. Minha boa menina...
minha pobre senhora, talvez ainda tenhas contigo
aquele velho lampião familiar.
Vai buscá-lo, as coisas duram tanto, duram mais do
que a gente, mais do que as almas até...
Vai, traze-o de novo para a mesa.
E pode ser que te lembres, pode ser que me lembres.
Mas são coisas antigas, antigas...
Perdoa, eu nem sei como fui escrever-te...
São coisas tão antigas
que decerto já deves estar morta!


Mario Quintana
In Baú de Espantos

UMA HISTORINHA MÁGICA




Para lili

Era um burrinho azul, vindo do céu
Via-o de madrugada no meu sonho...
E eu sempre lhe servia, em meu chapéu,
bolas-de-inhaque feitas de arco-íris!

Nunca as achei por isso nos bazares
quando a cidade despertava, exata,
e só restava da Cidade Oculta
um passo leve de menina-flor...

E era um menino preguiçoso e triste
e quando ele sorria por acaso
ninguém lhe fosse perguntar por quê!

Ele sabia histórias sem enredo
pois não queria que acabassem nunca
- Era um burrinho... uma menina... e...

Mario Quintana
In Baú de Espantos

sábado, 27 de setembro de 2014

POESIA PURA


Foto by Claudio Pereira

Um lampião de esquina
Só pode ser comparado a um lampião de esquina,
De tal maneira ele é ele mesmo
Na sua ardente solidão!

Mario Quintana ,
de Apontamentos de História Sobrenatural

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

XXV



Da paz interior


O sossego interior, se queres atingi-lo,
Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.
Não há nada que de um sono mais tranqüilo
Que uma vingança bem executada...


Mario Quintana
In: Espelho Mágico

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A SESTA



O vento cheio de idéias vãs
põe-se a pensar em outras coisas...
O cão que ao mormaço repousa
fareja o ar morno. As venezianas
listram o silêncio, enquanto em torno
o frescor das jarras e das louças
espera... enquanto, da parede, olha-me
o gelo do relógio
e um cheiro insistente de maçãs
convida-me
como se eu não estivesse deliciosamente morto e de
sapatos sobre
os arabescos da colcha.

Mario Quintana
In Baú de Espantos

XXX




Do eterno mistério

“Um outro mundo existe... uma outra vida...”
Mas de que serve ires para lá?
Bem como aqui, tu’alma atônita e perdida
Nada compreendera...


Mario Quintana
In: Espelho Mágico

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

CASAS




Para Cecília Meireles

A casa de Herédia, com grandes sonetos dependurados como panóplias
E escadarias de terceiro ato,

A casa de Rimbaud, com portas súbitas e enganosos
corredores, casa-diligência-navio-aeronave-pano
onde só não se perdem os sonâmbulos e os copos de dados,

A casa de Apollinaire, cheia de reis de França e
valetes e damas dos quatro naipes e onde a
gente quebra admiráveis vasos barrocos correndo
atrás de pastorinhas do século XVIII,

A casa de William Blake, onde é perigoso a gente entrar,
Porque pode nunca mais sair de lá,

A casa de Cecília, que fica sempre noutra parte...

E a casa de João-José, que fica no fundo de um
poço, e que não é propriamente casa, mas uma
sala-de-espera no fundo do poço.


Mario Quintana,
in “O Aprendiz de Feiticeiro” 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

UM NOME NA VIDRAÇA




A guriazinha
desenha as letras do seu nome na vidraça
- encantadoramente mal feitas -
as letras escorrem...
Enquanto isto,
umas pessoas morrem,
outras nascem...
Entre umas e outras,
viro mais uma página
desta novela policial.
E exatamente à página , verifico,
quando o herói vai torcendo cautelosamente o trinco
da porta,
interrompo
a leitura
e ele e todos os outros personagens ficam parados.
Eu sou o Deus catastrófico: não ligo.
olho agora a litografia da parede
- um trigal muito louro e acima dele apenas uma asa
contra o céu azul.
É como se eu abrisse uma janela na frustração da
chuva!
Bem, neste momento as pessoas já devem ter morrido
ou nascido
A verdade, minha filha,
é que eu não sei como parar este poema:
nos dias de chuva sobem do fundo do mar os navios
fantasmas
sobem ruas, casas, cidades inteiras,
e procissões, manifestações, os primeiros
e os últimos encontros, o padre-cura e o boticário
discutindo política na esquina...
(A guriazinha
apaga as letras lacrimejantes da vidraça.
E recomeça...)

Mario Quintana
In Baú de Espantos

METAMORFOSES DO VENTO



Pterodáctilo, serpente sinuosa, manada
De potros, monstro
Arquejante e cravado de bandeirolas
Pelos Anjos que limpam as vidraças do Céu,
Préstito
De espantalhos aos pulos,
Ululos
De loucos, cicios
De freiras, o vento
Tem todas as formas... O triste
É que ninguém consegue vê-las...
Ah, se um dia
Nós e todo o universo
Ficássemos de súbito invisíveis
Aí, então,
O vento
Seria
Senhor do Mundo, Imperador dos Poetas!

Mario Quintana
In Baú de Espantos

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

SONETO PÓSTUMO



- Boa tarde... - Boa tarde! - E a doce amiga
E eu, de novo, lado a lado vamos!
Mas há um não sei quê, que nos intriga:
Parece que um ao outro procuramos...

E, por piedade ou gratidão, tentamos
Representar de novo a história antiga.
Mas vem-me a idéia... nem sei como a diga...
Que fomos outros que nos encontramos!

Não há remédio: é separar-nos, pois.
E as nossas mãos amigas se estenderam:
- Até breve! - Até breve! - E, com espanto

Ficamos a pensar nos outros dois.
Aqueles dois que há tanto já morreram...
E que, um dia, se quiseram tanto!

(junho de 1952)

Mario Quintana
In Baú de Espantos


No silêncio Terrível



No silêncio terrível do Cosmos
Há de ficar uma última lâmpada acesa.
Mas tão baça
Tão pobre
Que eu procurarei, às cegas, por entre papeis
revoltos,

Pelo fundo dos armários,
Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas
ratazanas,

O pequeno crucifixo de prata
- O pequenino, o milagroso crucifixo de prata que 
tu me deste um dia

Preso a uma fita preta.
E por ele os meus lábios convulsos chorarão
Viciosos do divino contato da prata fria...
Da prata clara, silenciosa, divinamente fria - morta!
E então a derradeira luz se apagará de todo...



Mario Quintana;
in : Aprendiz de Feiticeiro

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

SONETO



Para Sandra Ritzel

A morte escolhe com gentil cuidado
e não às cegas, no dizer das gentes.
Quantas já vi no seu caixão doirado
com seus lindos perfis adolescentes...

Pareciam voltar a um internato
depois de haverem terminado as férias...
Mas lá seguiam todas, muito sérias,
- as mais pequenas para um orfanato.

Hoje, porém, são tantos os cuidados
se custa a morrer na flor dos anos...
Mas que mundo, que sonhos, que esperanças

se houvesse apenas jovens e crianças,
e os Poetas... que não têm nenhuma idade
e inauguram o mundo a cada instante!


Mario Quintana
In Baú de Espantos

ESSES ETERNOS DEUSES...




Para Liane Dos Santos

Os deuses não sabem apanhar o momento esvoaçante
como quem aprisiona um besouro na mão,
não sabem o contacto delicioso, inquietante
do que - só uma vez! - os dedos reterão...
Em sua pobre eternidade, os deuses
desconhecem o preço único do instante...
e esse despertar, ainda palpitante,
de quem cortasse em meio um sonho vão.
No entanto a vida não é sonho... Não:
aberta numa flor ou na polpa de um fruto,
a vida aí está, eterna: nossa mão
é que dispõe apenas de um minuto.
E todos os encontros são adeuses...
(Como riem, meu pobre amor... Como riem, de nós,
esses eternos deuses!)

Mario Quintana
In Baú de Espantos

O ANJO




Para Eloi Callage

O meu Anjo da Guarda de asas negras
tem uns olhos tão verdes como os teus.
E a mesma pele mate e... benza-o Deus!...
também teus mesmos lábios dolorosos...

Como o prendeste assim num sortilégio,
para ficares - sempre - junto a mim?!
Ou fui eu que inventei tua aparência,
nesta longa loucura sem remédio...

Pois não só neste como no outro mundo
o quanto eu vejo se transforma em ti.
Sei lá se o Anjo entende uns tais mistérios...

Só sei que certa noite o pressenti...
Mas baixei os meus olhos incestuosos
e os meus lábios sacrílegos mordi!


Mario Quintana
In Baú de Espantos

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Do PENSAMENTO




Eu penso em ti. Sabias que isso é uma coisa maravilhosa?
A primeira criatura que pensou numa outra criatura ausente
como deve ter se espantado! Não sabia que se tratava do
seu primeiro pensamento humano.

Mario Quintana,
in Caderno H

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Este Quarto...



Para Guilhermino César

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa esse quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...


Mario Quintana,
in Apontamentos de História Sobrenatural

SONETO XII




Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...

o Menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...

E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...

Eras tu... que, ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...


Mario Quintana, 
in A Rua dos Cataventos - 1940

domingo, 14 de setembro de 2014

PROJETO DE PREFÁCIO




Sábias agudezas... refinamentos...
– não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando páras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.

Mario Quintana 
Baú de Espantos




sábado, 13 de setembro de 2014

O PRETO



O preto tem a vantagem de realçar as cores
que o cercam sem nada perder no entanto da
sua própria e grave afirmação.

Mario Quintana,
in Caderno H

VERSO PERDIDO



...eu te amo a perder de vista.

Mario Quintana,
in Caderno H


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

CHOVE!




Chuva
Chuva
Chuva
Vontade
Chuva
De fazer não sei bem o que seja
Vontade de escrever Sagesse, de Verlaine
E a tarde gris, tão viúva,
Vai derramando perene-
mente as suas lágrimas de chuva
Abundantes
Como lágrimas de fita cômica
Cômica
Cômica

Mario Quintana
In Preparativos de Viagem

A Imagem Perdida




Como essas coisas que não valem nada
e parecem guardadas sem motivo
(alguma folha seca... uma taça quebrada...)
eu só tenho um valor estimativo.

Nos olhos que me querem é que eu vivo
esta existência efêmera e encantada...
Um dia hão de extinguir-se e, então, mais nada
refletirá meu vulto vago e esquivo...

E cerraram-se os olhos das amadas,
o meu nome fugiu de seus lábios vermelhos,
nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço...

E, no entretanto, em meio desta longa viagem,
muitas vezes, parei... e, nos espelhos,
procuro em vão minha perdida imagem!


Mario Quintana,
in PREPARATIVOS DE VIAGEM


MÁQUINA DE ESCREVER



Maria, nunca mais me escrevas a máquina. 
Isso dá a impressão de falta de sinceridade. Porque,
quanto a mim, não sei pensar a máquina. Só a lápis 
ou esferográfica.

Com a esferográfica, então, e ainda
mais quando em papel gessado, o pensamento vai 
deslizando como esqui sobre a neve, como um trenzinho 
– tuc, tuc, tuc – atravessando, preto sobre branco,
solidões geladas do norte do Canadá.
 
Com a máquina é o contrário: os dois fura-bolos com
que datilografo são uns magros galináceos bicando,
rápidos, vorazes, qualquer sementinha, qualquer 
grãozinho de idéia que apareça. Nada vinga, nada 
brota, e a página que ficou não é propriamente em
branco, porque se me afigura um chão de terreiro
deserto, poeirento e cheio de cocôs.
 
E depois, como pode ser íntima uma carta escrita a
máquina? Traz idéia de distância, de pequena mas
intransponível distância… 
como um beijo dado de máscara. 
 
Mario Quintana,
in  Caderno H 




segunda-feira, 8 de setembro de 2014

POEMA DA CIRCUNSTÂNCIA



Onde estão os meus verdes?
Os meus azuis?
O arranha-céu comeu!
E ainda falam nos mastodontes, nos brontossauros,
nos tiranossauros,
Que mais sei eu...
Os verdadeiros monstros, os Papões, são eles, os arranha céus!
Daqui
Do fundo
Das suas goelas
Só vemos o céu, estreitamente, através de suas empinadas
gargantas ressecas.
Para que lhes serviu beberem tanta luz?!
Defronte
Á janela onde trabalho
Há uma grande árvore...
Mas já estão gestando um monstro de permeio!
Sim, uma grande árvore...Enquanto há verde,
Pastai, pastai, os olhos meus...
Uma grande árvore muito verde...Ah,
Todos os meus olhares são de adeus
Como um último olhar de um condenado!


Mario Quintana
De: Apontamentos de História Sobrenatural


ARQUITETURA FUNCIONAL



Não gosto da arquitetura nova
Porque a arquitetura nova não faz casas velhas.
Não gosto das casas novas
Porque as casas novas não têm fantasmas
E, quando digo fantasmas, não quero dizer
essas assombrações vulgares 
Que andam por aí...
É não-sei-quê de mais sutil
Nessas velhas, velhas casas,
Como, em nós, a presença invisível da alma...tu nem sabes
A pena que me dão as crianças de hoje!
Vivem desencantadas como uns órfãos:
As suas casas não tem porões nem sótãos, 
São umas pobres casas sem mistério.
Como pode nelas vir morar o sonho?
O sonho é sempre um hospede clandestino e é preciso
(Como bem sabíamos)
Ocultá-lo das visitas
(Que diriam elas, as solenes visitas?)
É preciso ocultá-lo das outras pessoas da casa.
É preciso ocultá-lo dos confessores,
Dos professores,
Até dos Profetas
(Os Profetas estão sempre profetizando outras cousas...)
E as casa novas não tem ao menos aqueles longos,
intermináveis corredores
Que a lua vinha às vezes assombrar!

Mario Quintana
De: Apontamentos de História Sobrenatural

domingo, 7 de setembro de 2014

VIAGEM FUTURA



Um dia aparecerão minhas tatuagens invisíveis:
marinheiro do além, encontrarei nos portos
caras amigas, estranhas caras, desconhecidos tios mortos
e eles me indagarão se é muito longe ainda o outro mundo... 



Mário Quintana
In: Esconderijos do Tempo



GARE




Faz tanto tempo que se está esperando
-o trem  que não vem, o trem de Belém
_que as bagagens alheias, amontoadas
no banco, cheiram-me a poeira de séculos:
devem estar aqui, embolorando, caduceu
de Mercúrio, a cabeleira de Absalão,´
uma peça íntima de Cleópatra, um báculo 
de bispo, uma tabaqueira de Luís XV, um
olho de vidro, uma fivela, uma bolsa de 
água quente, um lenço com um nó,um...
Pestanejo. Sinto-me tão infeliz...
para que me fui meter nesse triste 
inventario, meu Deus? E, a cada suspiro
que dou, o meu anjo da guarda, perde mais
uma peninha da asa.

Mario Quintana,
in Canções

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O VIAJANTE




Eu, sempre que parti, fiquei nas gares
Olhando, triste, para mim...

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural



A MINHA RUA




É uma rua em que tenho o vício
De nunca entrar, e onde eu nunca entrei
E que vai dar na Babilônia, eu sei,
Ou nalbum porto fenício...

Se eu la entrasse seria Rei
Ou morreria nalgum suplício...
Crimes que la cometerei
Não deixariam nenhum indício...

Lá não se pensa, mas se responde
Conforme as rimas que um outro dá
Exemplo:Templo.É o templo onde

O senhor padre me casará
Com a linda filha de algum Visconde
Ou do Marquês de Maricá!


Mario Quintana, 
in A vaca e o hipogrifo


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

IMEMORIAL




À noite pervaguei pelo Beco do Império
que há cinqüenta anos não existe mais
e as horríveis mulheres, nos portais,
estavam belas de eu sonhar com elas.

Um bêbado me olhava, muito sério.
"Ó meu velho Condessa, como vais?"
Porém, agora — eu é que era o velho
e ele nem me conhecia mais...

Tolice!... Ele, afinal, disse o meu nome!
Ah, sempre que se sonha alguma coisa
tem-se a idade do tempo em que as sonhamos:

Me esqueci do futuro... e lá nos fomos
e a luz da Lua — eterna, intemporal —
juntava numa as duas sombras gêmeas.

Mario Quintana ,
in Apontamentos de história sobrenatural



PAISAGÍSTICA



O conforto, a higiene, sim...
No entanto, um ranchinho de barro e sapé vai muito
melhor com a paisagem.
Um ranchinho de barro e sapé parece brotado da terra,
faz parte da natureza, não contradiz as árvores e o céu.
E é, também, tão humano...”

Mario Quintana,
in Caderno H


O Que Chegou De Outros Mundos




"Tenho uma cadeira de espaldar muito alto
Para o visitante noturno
E enquanto levemente balanço entre uma e outra vaga de sono,
Ei-lo
O que chegou de outros mundos...
ali sentado e sem um movimento.
Talvez me olhe como se eu fora a branca estátua
derribada de um deus.
Talvez me olhe como a forma já ultrapassada
(que tudo o seu espanto e imobilidade pode dizer).
E eu então - ele ainda deve estar ali! -
Levanto-me e vou cumprindo
Todos os meus rituais.
Todos os estranhos rituais de minha condição e espécie.
Religiosamente.
Cheio de humildade e orgulho."

Mario Quintana,
in A Vaca e o Hipogrifo 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

TÃO SIMPLES



A verdadeira coragem consiste, apenas, em não nos
importarmos com a opinião dos outros...
Mas como custa!

Mario Quintana
Da preguiça como método de trabalho